O Dia da Consciência Negra, celebrado no último sábado, 20, marcou o encerramento do projeto Quilombarte, realizado na comunidade Quilombola de Capoeiras, zona rural de Macaíba/RN. O projeto, que trabalhou o empreendedorismo feminino através da produção de artesanato e moda autoral, contou com o apoio da Companhia Potiguar de Gás (Potigás) através do Edital Natural Como Fazer o Bem.
Durante todo o dia foi realizada programação especial com atividades socioculturais e ações afirmativas para combate ao racismo, exposição fotográfica, oficinas, feira de economia criativa e agricultura familiar, além de apresentações musicais. Na oportunidade, foram expostos os produtos das oficinas realizadas dentro do Quilombarte que abarcou a criação e montagem de biojóias, tingimento natural, empreendedorismo feminino, como vender através das redes sociais e fotografia com smartphones para redes sociais.
Capoeiras é a maior comunidade quilombola do Rio Grande do Norte. Abriga 400 famílias que possuem traços semelhantes, já que os casamentos aconteciam entre elas, fortalecendo a identidade cultural. Maria Nazaré, mais conhecida como “Fia”, tem 59 anos, nasceu e foi criada na comunidade. Mãe de cinco filhos e trabalhadora da agricultura, ela também já produz artesanato como fuxico e tricô, mas agora pode diversificar ainda mais as suas peças.
“Nunca tinha trabalhado com joias e tingimento. Gostei muito e agora vou fazer para vender essas peças”, afirma. O projeto foi elaborado a partir de um estudo prévio realizado por designers de moda com as mulheres da comunidade para criar um artesanato com traços identitários, cores, objetos e sentimentos da história local.
A produtora cultural Larissa Bianca, idealizadora do Quilombarte, explica que o projeto integra ações de base que acontecem semanalmente com a comunidade para que mulheres possam se reconectar com as suas identidades. “São produções sustentáveis realizadas a partir de produtos que elas já conhecem que estão disponíveis na região”, esclarece.
A diretora administrativa e financeira da Potigás, Eliana Bandeira, visitou o projeto e ressaltou a importância do movimento para a comunidade.
“Esse é um movimento de resistência e uma oportunidade de fortalecer a cultura local e também as raízes do quilombo. Estou muito feliz de poder ver de perto o entusiasmo dessas mulheres e a dedicação em aprender novas atividades, gerar renda e melhorar a condição de vida no geral. Para nós da Potigás, é um privilégio apoiar um projeto cheio de riqueza histórica e que está transformando vidas”, destacou.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o segundo país do mundo com a maior população afrodescendente, com quase 118 milhões de negros, atrás apenas da Nigéria.
Entre os anos de 2015 e 2018, o grupo de pessoas que se declararam pretas ou pardas foi o único que cresceu, com 47,4% trabalhando na informalidade. Com relação à ocupação de cargos gerenciais, os negros são minoria (29,9%). Pela divisão de trabalhadores por níveis de rendimento, apenas 11,9% dos maiores salários gerenciais são pagos a trabalhadores negros e pardos, enquanto essa população ocupa 45,3% dos postos com menos remuneração.